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SPZS PRESENTE NO DIA INTERNACIONAL DE SOLIDARIEDADE COM O POVO PALESTINO – LISBOA, 29 NOV.

No dia 29 de Novembro, Dia Internacional de Solidariedade com o Povo Palestino, muitos milhares de pessoas desfilaram em Lisboa, entre os Restauradores e o Cais do Sodré, juntando-se assim às muitas mais que nesse mesmo dia manifestaram a sua solidariedade com o povo palestino em mais de 90 cidades europeias.

As manifestações nacionais em Lisboa e no Porto foram convocadas por CGTP-IN, CPPC, MPPM e Projecto Ruído para encerrar a campanha «Todos pela Palestina. Fim ao genocídio! Fim à ocupação!» que desde o início de Setembro promoveu iniciativas de Norte a Sul do país e que recolheu o apoio de mais de centena e meia de organizações e de muitas dezenas de individualidades.

No final da manifestação em Lisboa, no Cais do Sodré, ouviram-se intervenções de Diniz Lourenço, pela CGTP-IN, Carlos Almeida, pelo MPPM, Inês Jorge, pelo Projecto Ruído, e Isabel Camarinha, pelo CPPC. Tânia Veríssimo fez a apresentação.

Os oradores foram unânimes em denunciar a falência do cessar-fogo em Gaza, em condenar a continuação do genocídio, em exigir medidas sancionatórias contra o Estado criminoso de Israel e em responsabilizar o governo português pela cumplicidade com Israel, assegurando que a o seu trabalho de solidariedade com o povo palestino não vai abrandar.


Intervenção de Carlos Almeida, em representação do MPPM, na Manifestação de 29 de Novembro de 2025 em Lisboa

À hora em que aqui nos reunimos, um navio com pavilhão português navega em águas internacionais entre a Namíbia e Angola, transportando 440 toneladas de material militar com destino a Israel. A bordo, seguem, em particular, 175 toneladas de projecteis de 155 mm do mesmo tipo daqueles que Israel tem usado para lançar fósforo branco sobre regiões densamente povoadas, em Gaza e no Líbano, o que é proibido pelas convenções internacionais. Por estes mesmos dias, uma empresa pública portuguesa, nada menos que a Imprensa Nacional Casa da Moeda, está a produzir dois milhões de moedas para alimentar a economia de guerra de um Estado que é acusado de crimes de guerra, crimes contra a humanidade e o crime de genocídio. Só por isto, Portugal pode ser pronunciado por um tribunal internacional por cumplicidade na ocupação ilegal dos territórios palestinos e por participação no crime de genocídio que Israel leva a cabo. 

Em Gaza, é preciso afirmá-lo de forma clara, o genocídio continua, continua todos os dias. Desde o dia 11 de Outubro, data da entrada em vigor do cessar-fogo, contam-se 352 mortos e 896 feridos. 605 corpos foram levantados dos escombros dos edifícios bombardeados. Dentro da área que controla, o exército de Israel prossegue a terraplanagem do território, implodindo edifícios de habitação a um ritmo diário. Desde o dia 7 de Outubro de 2023, entre mortos e feridos, estamos a falar de 240 771 vidas destroçadas, mais de 10 por cento da população daquele território. A fome continua a ser uma realidade diária com a entrada da ajuda humanitária limitada a ¼ do previsto no acordo de cessar-fogo.

Na Margem Ocidental, só no último ano, mais de 32 mil pessoas foram expulsas das suas casas nos campos de refugiados de Jenin, Nur Shams e Tulkarm, dados da UNRWA. Na quinta-feira passada, em Jenin, dois jovens, Al-Muntasir Billah Mahmoud Qassem Abdullah e Youssef-Ali Youssef Asa’sa, foram executados à queima-roupa, um episódio que só foi notícia porque, desta vez, foi filmado por jornalistas. Vive-se a mais violenta campanha de apanha da azeitona de que há memória. Até ao dia 25 de Novembro, 1057 pessoas foram feridas em consequência dos ataques conjugados de bandos de colonos e do exército de Israel. 

Sobre isto, nenhuma declaração se ouve da parte do Governo. Cantam-se louvores ao plano de Trump a que chamam “de paz”, dissimulando o facto de que ele visa impor o que a força bruta de Israel foi incapaz de alcançar: quebrar a resistência do povo palestino para prosseguir a fragmentação do território palestino, a ocupação e a colonização e, no limite, a expulsão da sua população nativa.

Que o governo português, a par da maioria dos governos europeus e de braço dado com os EUA, é cúmplice do genocídio, isso não chega a ser novidade. Mas o problema é mais fundo. Pergunta-se, quantos órgãos de comunicação social, quantos jornalistas e comentadores, interrogaram o primeiro-ministro, o ministro dos Negócios Estrangeiros, o ministro da Defesa, qualquer outro representante do governo, sobre o navio Holger G ou o negócio da Casa da Moeda? Em quantos debates sobre as eleições presidenciais, os candidatos foram interpelados sobre o genocídio na Faixa de Gaza? Quantos foram confrontados com o seu silêncio, as frases feitas ou as justificativas até, quando Israel matava à fome o povo palestino, quando bombardeava escolas e hospitais, quando implodia bairros inteiros, assassinava médicos e jornalistas, quando torturava barbaramente os palestinos presos?

Assim se trabalha para anestesiar a censura social e a justa indignação perante os crimes mais abjectos cometidos por Israel. Quando se fala na disseminação do discurso de ódio, da xenofobia e do racismo, é preciso colocar no prato da balança o efeito que, nesse processo, têm dois anos de normalização da violência, de uma campanha inaudita de desumanização de um povo, de justificação do castigo colectivo imposto sobre uma população através da mais extrema brutalidade. Que não haja ilusão, o ódio contra os imigrantes, o desprezo por quem vive do seu trabalho, o racismo, o discurso misógino e sexista, a promoção da violência e da guerra, são da mesma natureza do discurso que legitima a violência sobre o povo palestino. 

É por isso que, neste Dia Internacional de Solidariedade com o Povo Palestino, reafirmamos: a solidariedade com a causa do povo palestino é um imperativo do nosso tempo, uma exigência de justiça depois de setenta e sete anos de silenciamento, colonização e humilhação, mas é também uma trincheira do combate que hoje travamos pela democracia, a liberdade e a paz, não a paz dos cemitérios e dos ditadores, mas a paz dos povos, livres e soberanos. O tempo é de reforçar a unidade, uma unidade fundada na firmeza de princípios, a mesma sobre a qual se ergueu esta grande campanha de solidariedade que correu o país de Norte a Sul, que mobilizou a adesão e o contributo de mais de centena e meia de organizações, sindicatos e colectividades, associações e colectivos, e um número ainda maior de homens e mulheres, todas e todos pela Palestina, pelo fim ao genocídio, pelo fim da ocupação, uma campanha que fundou raízes, estreitou laços e abriu caminhos. Será por aí que seguiremos, levando a bandeira da Palestina a todos os lugares porque a luta heróica do povo palestino a transformou num símbolo universal de dignidade, justiça e liberdade.

Viva a resistência do povo palestino!

Palestina vencerá!